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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO MITOLÓGICO PARA A PSICANÁLISE

O homem sempre teve a idéia do sagrado, encontrando nas mitologias uma forma de resolver ou aplacar os seus conflitos, controlando sua agressividade através dos ritos.
Segundo Joseph Campbell, os mitos são histórias da nossa vida, da nossa busca da verdade, da experiência da vida. Campbell diz mais: “(...) os mitos estão perto do inconsciente coletivo e por isso são infinitos na sua revelação”.
Recordando Jung temos que inconsciente coletivo – que retirou da Mitologia – guarda as imagens arcaicas, herdadas do mundo, ou seja, coleta imagens primitivas e as mistura em nossos sonhos o que significa dizer que para ele o indivíduo não nasce como papel em branco, mas defendia a teoria dos arquétipos universais onde, independentemente da experiência pessoal, da cultura todos herdam as mesmas formas arquetípicas desenvolvidas e acrescidas pelas experiências pessoais.

Quando falamos em mitologia supomos acontecimentos ocorridos antes do surgimento dos homens – história dos deuses; ou com os primeiros homens – história ancestral, mas podemos perceber que a verdadeira importância do mito vai além da imagem. Está na apresentação de um conjunto de fatos que dão sentido ao mundo. Funciona como uma intervenção simbólica entre o sagrado (do hebraico – aquilo que não pode ser aviltado por mãos profanas) e o profano gerando no psiquismo a idéia de respeito, referindo-se a temas que transcendem a razão: Deus, a origem, o bem e o mal e o destino último do mundo e da humanidade (escatologia) uma das grandes interrogações do homem ainda hoje.
Joseph Campbell afirma que “todos nós precisamos contar nossa história, compreender nossa história. Todos nós precisamos compreender a morte e enfrentar a morte e todos nós precisamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à morte. Precisamos que a vida tenha significado, precisamos tocar o eterno, compreender o misterioso, descobrir o que somos”. Vale lembrar que o homem é o único animal que sabe que vai morrer.
A Psicanálise, apesar do cientificismo atual, acredita que o homem continua a criar mitos; que sendo o pensar mítico uma parte do psiquismo humano (soma dos processos conscientes e inconscientes do indivíduo) deixar de criá-los seria transformar o homem em máquina,
Ao mitificar o indivíduo sai do campo do imaginário para adentrar no campo do simbólico. O homem primitivo, muito mais sensível, captava as imagens, sem analogia, e as fixava mnemicamente; mas conforme evolui começa a abstrair, isto é, a considerar isoladamente, traçando uma correlação, interpretando as formas imagéticas fora dele. É o surgimento da forma simbólica de pensar e para o ser humano o simbólico tem mais valor do que aquilo que ele toca.
Mas a sociedade moderna, voltada para o consumo, atenta contra o pensamento mítico dando ao homem uma “super dosagem” de imagens e ele passa a só entender e valorizar essas imagens.
Um exemplo disso encontramos na fala de um funcionário de uma empresa que chamarei de “XLY”. Disse que ainda se lembrava do início de sua vida profissional nessa conceituada Empresa, da forma como era tratado por ela. Mas ele não conseguia imaginar ou lembrar de algo que não fosse o status que ela lhe dava. Em sua dissertação ficava muito claro o contexto ideológico trabalhando a vaidade e levando os funcionários a “vestirem a camisa” da Empresa. Dessa forma sempre que falava ou pensava em máquinas e equipamentos logo era defendida a ideologia da “XLY”.
O pensar mítico age nos liberando dessa concretude que nos é imposta pela sociedade moderna. O valor do pensamento mítico se deve ao fato de ser ele um trabalho de elucubração do inconsciente e ai reside a sua importância para a Psicanálise já que ela estuda o inconsciente e cuida das doenças existenciais.
Isso quer dizer que ao conhecer as mitologias estamos entrando em contato com o inconsciente social e racial de vários povos, porque como disse Campbell, no mito se revela o que os seres humanos têm em comum.
Dessa forma, a leitura mitológica é uma leitura direta do inconsciente tal qual fazemos ao interpretar um sonho, - “os mitos são uma expressão simbólica dos sentimentos e atitudes inconscientes de um povo, de forma perfeitamente análoga ao que são os sonhos na vida do indivíduo”(Freud).
O sonho, instrumento valioso para a Psicanálise, é uma mitologia pessoal, particular assinalando a existência de um herói, marcando o seu caminho através da “chamada” que o impele na direção de uma busca, uma missão; da “iniciação” e da “glorificação”. O sofrimento extremado do indivíduo no sonho indica que ele não está conseguindo viver sua mitologia pessoal de forma adequada.
Nessa mitologia pessoal, que todos devemos desenvolver independentemente de religião, de dogmas, o indivíduo volta à infância, tenta explicar a sua origem como pessoal.
O psicanalista precisa ter conhecimento sobre mitologia e religião comparada pois a medida que analisa o homem a partir da cultura começa a entender o porque do seu sofrimento, da sua angústia existencial. Se não pesquisar a mitologia não entenderá as raízes dos sofrimentos modernos.
O homem atual, trabalhando maquinalmente, afasta-se mais e mais da sua vontade, ou seja, já não se identifica com o que faz. Alienando-se vai perdendo a capacidade de abstrair, de ter um pensamento individual, de criar um mito pessoal, atendendo tão somente ao mito coletivo da tecnocracia.
A Psicanálise visa a psicocentralização do indivíduo. Levar o indivíduo a pensar por si próprio, a se conscientizar do próprio valor e isso vai protegê-lo do pensar maquinal.
Obviamente o psicanalista não conseguirá modificar o todo, mas como um agente cultural luta contra os agentes culturais do sistema trabalhando o que está ao seu alcance, lidando inclusive com a predisposição do outro em se transformar, de criar em si mesmo um olhar diferenciado, sabendo distinguir o que é fantasia, ilusão, hipocrisia, máscaras.
A proposta da Psicanálise, então, é libertária: ajudar o homem a criar os seus mitos pessoais, fortalecendo sua auto-estima, seu auto-amor para que ele não caia no que a senhora Marilena Chaui, no livro Convite à Filosofia, chamou de servidão voluntária, onde o indivíduo troca o direito à liberdade pelo desejo de posses. Ela diz: “Não somos obrigados a obedecer ao tirano e aos seus representantes, mas desejamos voluntariamente servi-los porque deles esperamos bens e garantias de nossas posses. Usamos nossa liberdade para nos tornarmos servos” - Não deixamos de existir se não tivermos uma conta bancária ou jogarmos fora o nosso cartão de crédito.
Nesse ponto é justo recordarmos o filósofo ateniense Sócrates, cujo ponto fundamental de sua filosofia é o autoconhecimento. Em sua maiêutica, ao propor questões habilmente colocadas, levava os discípulos a refletir de modo profundo, desprezando os conceitos vagos, e os chavões repetidos, irrefletidamente, pelo senso comum. Depois os ajudava a conceber suas próprias idéias. Foi assim que Sócrates procurou caracterizar sua vida: construindo uma personalidade corajosa e guiando sua conduta pelo seu critério de justiça.
É assim que a Psicanálise, através do profissional bem orientado, bem amparado pelo conhecimento procura levar o indivíduo ao conhecimento de si mesmo a partir de suas crenças pessoais, criando um pensar mítico sem comprá-lo do sistema, criando um senso de missão, uma capacidade de se auto-analisar, de abstrair, de se manter fora do alcance das chamadas doenças modernas. De fortalecer o seu mundo interno, de aprender a simbolizar, de encontrar dentro do seu esboço mitológico outros seres mitológicos, iguais a ele.

4 comentários:

Anônimo disse...

texto chato, esse. não consegui ler ele inteiro não.

Isabel Ruiz, disse...

Que pena amigo(a), mas o importante mesmo foi receber sua visita.
Seja sempre bem-vindo(a).
Abraços
Bel

Lorena disse...

Adorei o texto! Esta me ajudando muito na minha vida acadêmica.
Estarei sempre visitando o blogger.
Abraço!

Isabel Ruiz, disse...

Obrigada, Lorena. Seja sempre bem-vinda.